terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Post Indigente - sem nome nem aderente


Controle remoto na mão. Novela, docs, filme e futebol. O que há de interessante para uma tarde de sábado? Acabei estacionando em um reality policial, onde a equipe acompanha as viaturas atendendo aos chamados pelas ruas da cidade. Denúncia: homicídio.
Chegando ao local, temi continuar assistindo pois o câmera não hesitou em filmar o corpo... que se mexeu. Esperei sangue, mas o corpo mexeu. Um homem de calças, sem camisa, barbudo e de aparência suja acorda depois da abordagem policial. Não consegue levantar-se (ou não quer). Apenas rasteja sentado.
- O que tá fazendo aqui? Ei! Falei com você!
O homem nada respondeu, apenas duas olhadas para o policial. Vestiu a camisa e rastejou do muro para detrás do poste, na beira da calçada.
Voltado para a câmera o policial continua:
- Como vocês podem ver, é apenas um indigente. Está tudo bem, graças a Deus, a denúncia era falsa. Acontece muito, as pessoas acharem que, pelas características, estar sujo, jogado, se trate de um corpo. Vamos embora.
Meu senhor, a denúncia não era falsa.
Meu senhor, gente assim não fala. Sequer tem voz.
Meu senhor... esse crime foi arquivado, faz tempo.. faz tempo!

3 comentários:

  1. E assim a vida segue em terra de ninguém e de todos(que não querem ser um ninguém).

    Muito bom o post.

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  2. engraçado. . . Os Heróis estão enclausurados em mansãos com câmeras 24horas, concorrendo a milhares de reais pela perda da sua dignidade; o salário é digno para todos trabalhadores... e na calçada, graças a deus é só um corpo sujo, maltrapilho, sem voz, mas ainda rasteja, não há problema nenhum aqui!

    nem sei o que pensar, o que formular . . . tenho medo de viver!

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  3. Sua sensibilidade é incrível...a sua simplicidade na forma de escrever é dotada, ao mesmo tempo, por uma carga poética intensa! Gostei muito! Parabéns minha amiga poetisa...continue assim! Bjokas

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Obrigada Por Comentar ! ^^.